Legalizar... para controlar!

Antes de mais deixem-me esclarecer-vos que não sou um "velho do Restelo" e que aceito e apoio a constante evolução com que vivemos nos nossos dias, só que esta imposição do Governo, da Liga de Futebol Profissional e da Polícia em querer obrigar as Claques ou Grupos de Adeptos a legalizarem-se, fazendo pressão e impondo datas para que isso aconteça, é no mínimo voltar ao passado e ao tempo em que a liberdade de expressão era apenas um sonho.

Toda esta estupidez começa com a criação de uma lei para mostrar trabalho por altura do Euro 2004, essa lei pretendia regulamentar e disciplinar os adeptos de forma a que não se registassem incidentes entre adeptos durante o Euro 2004 e obviamente nas competições futuras, só que o principal erro começou aqui, a lei foi feita por alguém sem conhecimento de causa e muito menos da realidade nacional no que diz respeito às Claques e Grupos de Adeptos. Se por ventura ouviram alguém, ouviram as pessoas erradas, aquelas que são adeptos de sofá e não aqueles que, como eu e muitos outros, trocamos semanalmente o sofá e a televisão pelos estádios, ficando à mercê do humor e má preparação das forças de segurança que, por integrarmos uma Claque ou Grupos de Adeptos, nos catalogam como possíveis fontes de problemas e privando-nos dos nossos direitos de espectadores com bilhete adquirido.

A Lei que obriga à legalização é no mínimo "pidesca" e desajustada à realidade" o que me faz pensar que foi criada para defender os interesses de alguém mas nunca os direitos dos adeptos. Senão vejamos, se eu quiser ir ao futebol, ou assistir a qualquer outra prova desportiva, com um grupo de amigos ou familiares apenas tenho que ir à bilheteira e adquirir os respectivos ingressos, ninguém me vai questionar quem sou, onde moro, o que faço na vida e qual o meu número de bilhete de identidade. No entanto, se eu for a esses mesmos acontecimentos desportivos integrado numa Claque ou Grupo de adeptos o caso muda de figura, tenho que ir para um determinado sector do recinto, muitas vezes sem condições, sou sempre vigiado pelas forças de segurança, de tal modo que até para ir à casa de banho só posso ir se eles deixarem e sujeito-me às variações de humor e profissionalismo do responsável de serviço.Se isto não é discriminação é o quê? O meu dinheiro não é igual ao dos outros espectadores? Não pago impostos como os outros? ou então se calhar temos cidadão de primeira e de segunda?

Ok, podem dizer que é preciso as forças de segurança terem alguns cuidados para evitar problemas entre adeptos de Clube rivais e garantir a segurança de todos, concordo mas todos sabemos que o excesso de zelo e de autoridade pode fazer com que as coisas funcionem pior e não será à força nem fazendo pressão para que as Claques se legalizem que o problema será resolvido.

E qual é o papel dos clubes no meio disto tudo? A Lei é tão ridícula que os proíbe de apoiar as Claques ou Grupos de a. O que seria do desporto sem Adeptos? Será que ainda existiriam os clubes? Está certo que o futebol, e outros desportos, se estão a transformar num produto comercial mas isso é outra conversa.O que é que o Governo, a Liga ou as forças de segurança têm a ver se os clubes apoiam os Grupos de adeptos do Clube? Afinal, somos nós que contribuímos para que as equipas do clube tenham apoio onde quer que joguem.

Como é possível exigir a uma Claque ou Grupo de Adeptos que se legalize se a lei os torna quase um grupo de criminosos que é necessário controlar e para tal vamos solicitar-lhes os dados pessoais, talvez o Governo nos queira atribuir um subsídio ou nos vá facultar transporte de casa para os jogos pois só assim se justifica a necessidade de saber onde moramos.Isto é ridículo e só num pais de mentecaptos é possível tal lei.

No meio disto tudo o que podemos fazer para não perdermos identidade, leia-se continuarmos a utilizar e colocar as faixas e tarjas de apoio nos recintos, visto que agora é essa a forma de pressão encontrada pelas forças de segurança para nos pressionar, ainda que as casas e núcleos de adeptos dos Clubes continuem livremente a colocar tarjas.Na minha opinião temos dois caminhos, ou cedemos e aceitamos ser rotulados e tratados como "Adeptos anormais", ou unimo-nos e demonstramos que a Lei está mal feita e que ninguém nos pode tirar a liberdade de expressão e de sermos livres para fazermos, dentro dos parâmetros aceites pela sociedade, o que queremos. Sim, eu sei que muitos Grupos precisam do apoio dos Clubes para sobreviver mas afinal a liberdade tem um preço.

Enquanto membro fundador de um dos Grupos mais antigos em Portugal, não posso aceitar que nos obriguem a pactuar com uma lei "pidesca" e que obriga a facultar os dados pessoais dos elementos do Grupo, não que tenhamos nada a esconder mas apenas porque isso, no meu entender, viola um direito constitucional. Não me oponho a que exista regulamentação que tenha que ser respeitada pelas claques ou Grupos de adeptos de modo a contribuir para que o nosso papel seja fazer parte do espectáculo desportivo e se possível contribuir para que mais espectadores se desloquem aos recintos, mas ser discriminado ... não aceito.


Luís Silva

Sócio nr. 1 e Fundador da Fúria AzulClaque, não legalizada, de apoio do CF osBelenenses


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F.A. AJUDA 84

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